Há desafios que devem ser vencidos para que Projeto Político Pedagógico de uma escola represente para os docentes algo mais que um simples documento, elaborado graças a uma ação burocrática ou uma realização feita apenas por força das normatizações, torna-se preciso evitar o cenário delineado por Veiga (2008:65), onde “professores não acreditam, nem mesmo, na necessidade e na validade de se analisar uma nova proposta e tudo se reduza a longas e cansativas reuniões.”
Indo em direção oposta e acreditando na educação pública, para o educador, o projeto pode significar o surgimento de um poder local capaz de transformar a realidade de uma comunidade, oferecendo uma educação que permita e permeie práticas educacionais que aliem currículo ao perfil dos discentes, discurso à prática e normas à autonomia. Lembrando que para Gadotti (1994:02) “não se constroi um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político.”
Então, considerando apenas uma parte do elenco de atores que deve se envolver no em todo o processo, ou seja, o professor, desde as primeiras ponderações até o último momento de julgamento desse documento, lança-se uma questão: qual a representação do projeto político pedagógico na construção da prática docente dos professores do curso de Educação,
Democracia e Gestão Escolar?
Em determinado período do ano letivo, geralmente no início, somos chamados para a (re) elaboração do projeto político pedagógico da escola em que atuamos. As reações são adversas, da apatia ao engajamento, entretanto, após a conclusão dos trabalhos e da confecção do documento final, dependendo da estrutura organizacional, equipe gestora e de coordenação, etc., ele pode se tornar o documento norteador da prática docente ou simplesmente ignorado. Reproduzimos em nossa trajetória profissional o que muitas vezes fazemos em nossa vida pessoal, nos apropriamos ou descartamos de conceitos, ideias, discursos ou coisas de acordo com o significado e /ou representação que eles possuam para nós. Não entendemos, de acordo com Veiga (2003: 277), “a instituição educativa não é apenas uma instituição que reproduz relações sociais e valores dominantes, mas é também uma instituição de confronto, de resistência e proposição de inovações.”
Talvez este seja o grande desafio: compreendermos qual o valor, significado ou representação que esse documento, tão importante para a escola, tem para nós?
De acordo com Houaiss, significação é a “relação de estima, reconhecimento, apreço por alguém ou algo; importância, valor, significação,significância ou representação mental”. Para representação, tem-se seguintesacepções: “ideia ou imagem que concebemos do mundo ou de alguma coisa , operação pela qual a mente tem presente em si mesma a imagem, a ideia ou
o conceito que correspondem a um objeto que se encontra fora da consciência.”
De acordo com a representação e significado que o projeto político pedagógico tenha para o professor, a sua ação dentro da instituição será definida, pois, as normatizações implementadas na educação nos últimos anos, refletem parte das grandes mudanças ocorridas em nossasociedade e geraram demandas que só podem ser resolvidas coletivamente. Assim, ao
optar pela prática planejada e operacionalizada desconsiderando o referido documento, pode o professor, conscientemente ou não, construir barreiras para a efetivação da proposta.
No Distrito Federal, a Lei 4036 /07, no Art.17, parágrafo 3º, estabelece que “Após nomeada, a equipe gestora terá o prazo de 60 (sessenta) dias para construir coletivamente a proposta pedagógica para a instituição educacional, para o ano de 2008, que deverá ser revista/atualizada a cada início de um novo ano letivo.” Eis os pilares legais que avalizam a construção do PPP nas escolas públicas do DF. Entretanto, deve-se estar atento, pois de acordo com Veiga (2003:272) “O projeto político-pedagógico, na esteira da inovação regulatória ou técnica, está voltado para a burocratização da instituição educativa, transformando-a em mera cumpridora de normas técnicas e de mecanismos de regulação convergentes e dominadores.” Uma feição que muitos professores enxergam e por isso o rejeitam. O processo de participação deve ser bem estruturado, deve entre aspectos, privilegiar o fazer pedagógico.
O professor, um dos sujeitos no processo ensino aprendizagem, precisa construir a sua prática considerando diversos fatores, dentre eles: o projeto político da escola em que trabalha. Em tese, ela segundo Lück (2006:67) comprova que “a dimensão pedagógica da participação refere-se ao fato natural de que a prática, um fator natural de que a prática é, em si, um
processo formativo e, portanto, um fator fundamental de promoção de aprendizagens significativas e construção do conhecimento.” Refletindo as propostas, a utilização desse documento contribui para o aprimoramento profissional desse sujeito. Entretanto, deve-se vislumbrar algo maior, para além da sala e caminhar ao encontro do que diz Veiga (2003, p.277) para quem “a inovação educativa deve produzir rupturas e, sob essa ótica, ela procura romper com a clássica cisão entre concepção e execução, uma divisão própria da organização do trabalho fragmentado.
Essa experiência participativa pode estimular o incremento e a inclusão de novos modelos teóricos, privilegiando processo(s) que ampliam os atores e o espaço dentro do cotidiano das escolas pode-se considerá-la como uma ação denominada por Saviani (2008:69) de “articulada”, de caráter popular e em busca de “de métodos de ensino eficazes. Tais métodos situar-se-ão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros.” Portanto, é sempre bom lembrar que o projeto pode nortear práticas docentes que permitam à escola possuir, conforme Libâneo (2004:66), uma “qualidade formal e política [...] baseada no conhecimento e na ampliação de capacidades cognitivas, operativas e sociais, com alto grau de inclusão” .
Fonte:A REPRESENTAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO PARA OS DOCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO DF CAVALCANTE.(Trabalho de conclusão de curso apresentado por Carlos FernandesCavalcante à coordenação do cursode Pós-Graduação em Educação,Democracia e Gestão Escolar, para obtenção do grau de Especialista emEducação, Democracia e Gestão Escolar pela Fundação Universidade do Tocantins -UNITINS, soborientação do professor Mestre. JoséCarlos de Melo. )Março de 2010.