quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Proibição

Tem cuidado ao amar-me.
Pelo menos, lembra-te que to proibi.
Não que restaure o meu pródigo desperdício
De alento e sangue, com teus suspiros e lágrimas,
Tornando-me para ti o que foste para mim,
Mas tão grande prazer desgasta a nossa vida duma vez.
Para evitar que teu amor por minha morte seja frustrado,
Se me amas, tem cuidado ao amar-me.
Tem cuidado ao odiar-me,
E com os excessos do triunfo na vitória,
Ou tornar-me-ei o meu próprio executor,
E do ódio com igual ódio me vingarei.
Mas tu perderás a pose do conquistador,
Se eu, a tua conquista, perecer pelo teu ódio:
Então, para evitar que, reduzido a nada, eu te diminua,
Se tu me odeias, tem cuidado ao odiar-me.
Contudo, ama-me e odeia-me também.
Assim os extremos não farão o trabalho um do outro:
Ama-me, para que possa morrer do modo mais doce;
Odeia-me, pois teu amor é excessivo para mim;
Ou deixa que ambos, eles e não eu, se corrompam
Para que, vivo, eu seja teu palco e não teu triunfo.
Então, para que o teu amor, ódio, e a mim, não destruas,
Oh, deixa-me viver, mas ama-me e odeia-me também.

John Donne, in "Poemas Eróticos" Tradução de Helena Barbas
DISPONÍVEL EM:http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200809040309

MIDIA, CONVERGÊNCIA E ESCOLA

EDUCAÇÃO, DEMOCRACIA E GESTÃO ESCOLAR- 2009 UNITINS/SINPRO-DF Módulo 1 Introdução às tecnologias educacionais Alunos Carlos Fernandes Cavalcante / Virgínia K. A. C. do Nascimento/Elda Borges de Jesus Tutor George França Atividade Texto colaborativo- avaliação final

A cada dia os recursos tecnológicos estão se tornando parte do nosso cotidiano, entretanto existem aspectos que devem ser observados para a utilização das tecnologias na educação, são eles: o domínio do técnico e do pedagógico não deve acontecer de modo estanque, um separado do outro e não é preciso se tornar um especialista em informática ou em mídia digital para depois tirar proveito desse conhecimento nas atividades pedagógicas. Deve-se permitir que os conhecimentos técnicos e pedagógicos cresçam simultaneamente, a partir de um processo de interação, pois de acordo com Bescow (2006) “a internet suporta todos os componentes do modelo comunicativo: interativa, participativa, horizontal, multimodal, mas de que adiantaria tantos recursos tecnológicos se não existir um projeto comunicativo e educacional por trás desses meios?”, portanto além do conhecimento, é muito importante a construção de um projeto que transforme a prática docente.
Assim procurando aprender para redirecionar a prática pedagógica se faz necessário apresentar os conceitos básicos que direcionam este trabalho, tendo em vista que mídia e convergência fazem parte do universo educacional.
Para Jeckins citado por Barbizani (2008) “a convergência é um processo cultural. Refere-se ao fluxo de imagens, idéias, histórias, sons, marcas e relacionamentos através do maior número de canais midiáticos possíveis. Um fluxo moldado por decisões originais, tanto em reuniões empresariais quanto em quarto de adolescentes. Moldado pelo desejo de empresas de mídia de promover ao máximo marcas e mensagens, e pelo desejo dos consumidores de obter a mídia que quiserem , quando, onde quiserem; por meios legais ou não." O termo de mídia é bastante difundido, de acordo com o sítio http://www.foxmidia.com.br/midia.html, “ele designa de maneira genérica, todos os meios de comunicação, ou seja,os veículos que são utilizados para a divulgação de conteúdos de publicidade e propaganda.” Evoluindo para o conceito de mídia digital , termo que para Pernisa Jr. (2001:175) ,"refere-se, na maioria das vezes, ao universo da comunicação, indicando a pluralidade de meios aí presentes. Assim sendo, a mídia digital seria o espaço que comporta os meios de comunicação que se utilizam da linguagem binária da informática.” Então segundo o mesmo autor “termo mídia pode contemplar todos os meios de que trata hoje o universo da comunicação.” A escola, como espaço onde se privilegia o conhecimento, pode se tornar o centro que propões e estimula, além da inserção de novas tecnologias em sala de aula , a mudança no paradigma do ensino, tornada possível após a discussão e a compreensão de proposta elaborada pela comunidade, sabendo-se que o conhecimento, a propagação, criação e a inserção de uma nova uma de nova linguagem que nasce a partir da possibilidade de usar texto, imagem e som, de maneiras diferentes, interconectados chamado frutos da utilização da de mídia digital, modificará para sempre a relação dos envolvidos com o seu meio.
A mídia se faz presente na escola de todas as formas, seja pela internet, celular, televisão, jornais, revistas e outros. Cabe ao professor, em sala de aula, transformar isso tudo em ferramenta didática, e tirar proveito da situação, propondo atividades que contextualize e transforme a informação em conhecimento, levando os alunos a se posicionarem de forma critica e reflexiva. Daí a importância da pedagogia de projetos para que a atividade proposta tenha como característica básica a convergência, estimulando professores e alunos, buscando parcerias, promovendo a criação de blogs, revistas digitais, a utilização de e-books, além da compreensão sobre a importância dos sítios de relacionamento e de rede social, sabendo-se que eles propiciam uma nova percepção sobre a web , demonstrando como se utiliza vídeos com finalidades educativas e de entretenimento,além de viabilizar palestras e encontros através de videoconferência, trabalhando com o skype, por exemplo. Esses elementos facilitam a aprendizagem e o desenvolvimento de e competências e habilidades necessárias ao cidadão do século XXI. Algumas barreiras devem ser superadas, há escolas sem laboratórios e professores sem formação e recursos necessários, entretanto é preciso compreender que pequenas ações, podem possibilitar grandes transformações, basta querer. Ressalta-se que a utilização de mídias de convergência pode produzir uma escrita que acoplada ao computador possibilita existe a interação, o diálogo, a comunicação entre pessoas com diferentes condições perceptivas e de estruturas psicológicas. Como exemplo, mostramos que em 2008 no Centro de Ensino Fundamental 03 do Gama DF, dentro do PROJETO ARTCONEXÃO,executou-se uma atividade que possibilitou aos alunos, todos pertencentes de baixa renda e moradores de área com altos índices de violência, um trabalho que inclusão digital e utilização de mídias de convergência. A referida atividade estava assim estruturada:
1-Tema da atividade: AFRICANIDADES 2-Objetivo geral: Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro. 3-Objetivo específico: dominar os procedimentos de pesquisa, criar um blog, reconhecer as semelhanças culturais e sociais existentes entre alguns povos africanos e o Brasil. 4-Disciplinas: Português, História, Arte, Ciências, Matemática, Geografia e Educação Física. 5-Dinâmica: aula expositiva (conceito e exemplos de blogs, mídias, etc.,como fazer uma pesquisa,o que é direito autoral ?, etc.) 6-Cronograma: 4º bimestre de 2008. 7-Material e suporte necessário: Laboratório e informática, computadores pessoais, conexão banda larga, tutoria dos professores envolvidos. 8-Fontes de pesquisa: sites educacionais e do Blogger, blog do professor de Carlos, sites de busca- GOOGLE. 9- Avaliação: leitura e acompanhamento semanal das postagens,criatividade , pontualidade e respeito aos direitos autorais.Avaliação ao final do trabalho pela comissão, segundo os quesitos estabelecidos nas Orientações. 10-Endereços dos blogs: http://carllosfernandes.blogspot.com/2008_09_01_archive.html http://cef03gama7d.blogspot.com/ http://cef03gama7b.blogspot.com/ http://cef03gama7c.blogspot.com/
Por acreditar que tão importante quanto vivenciar uma nova era é ajudar a construí-la, buscou-se neste trabalho, além do aprofundamento dos conhecimentos sobre tecnologias educacionais, demonstrar que nas escolas de rede pública do DF existe uma prática que permite aos professores e alunos o domínio da tecnologia digital. Então aos poucos paradigmas e preconceitos são abandonados, o professor passa a entender que sem a utilização da mídia digital não há como interagir com o seu aluno.
Referências:
BARBIZANI, Vinicius. A Cultura da Convergência. Artigo. Publicado em 12/11/2008. Disponível em: http://imasters.uol.com.br/artigo/10688/midia/.Acessado em 18/04/09. BESKOW. Cristina Alves. Inclusão digital na escola pública:inter-relacionando a comunicação, a tecnologia e a escola. Artigo. Disponível em: http://www.cibersociedad.net/congres2006/gts/comunicacio.php?llengua=po&id=840. Acessado em 19/04/09. CEF 03.PROJETO ARTCONEXÃO- 2008. PERNISA Jr. Carlos. Mídia digital. Artigo. Lumina - Juiz de Fora - Facom/UFJF - v.4, n.2, p. 175-186, jul./dez. 2001 v. 5, n.Disponível em: http://www.facom.ufjf.br/lumina/R8-Junito%20HP.pdf. Acessado em 19/04/09. Sítio: http://www.foxmidia.com.br/midia.html.Acessado em 18/04/09

sábado, 25 de abril de 2009

REPENSANDO A ADMINISTRAÇÃO DE ESCOLA PÚBLICA


Quando se pensa em educação pública hoje, o que logo nos vem à mente é desorganização, desordem, falta de qualidade, etc. Por conta disso, alguns têm defendido que a escola deve adotar os princípios da gestão empresarial – tendo como referência as fábricas -, para que, então, ela alcance “eficiência”. Porém, a questão não parece ser tão simples assim. Ela requer mais atenção. Desta forma, interessa abordar o processo de administração da escola pública, focando as suas características e comparando-as com a administração empresarial, para que, assim, se perceba as suas diferenças e incompatibilidades, mesmo que se admita a existência de aspectos comuns a ambas, como a definição de horários, a utilização de fardamentos, a estruturação de turmas e turnos, etc. Antes de mais nada, há que se assinalar que muitas das análises defendendo a adoção da gestão empresarial na escola, conforme os mecanismos administrativos do mundo industrial, são feitas por pessoas que não estão inseridas no contexto educacional. Por assim ser, por vezes, são produzidas abordagens sem consistência analítica, desconhecendo-se a realidade escolar. De outra parte, é inegável que as escolas públicas enfrentam uma série de problemas, como a falta de condições para a realização do trabalho pedagógico, a escassez de recursos, os entraves burocráticos, etc. São situações que têm gerado um quadro de dificuldades para professores e alunos. Mas, isto não é uma decorrência da gestão pública da educação, e sim um resultado das políticas neoliberais, conforme os propósitos irracionais do mercado capitalista. É assim, por exemplo, que se tem perdido de vista a formação dos sujeitos em sua complexidade/integralidade, preocupando-se apenas em instruir corpos e mentes para servir aos interesses neoliberais no mercado de trabalho. Deste modo, tem-se algo, no mínimo, irônico, que pode ser traduzido da seguinte maneira: o “quadro administrativo caótico” invocado pelos defensores da gestão empresarial como justificativa para a adotar nas escolas, é, na verdade, uma consequência da matriz político-ideológica na qual se origina essa proposta de gestão.
REFERÊNCIA:Nota: Este artigo foi elaborado a partir de um trabalho de investigação no âmbito da Área Temática Fundamentos Administrativos da Educação, na Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)/Brasil.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Design Instrucional: Metodologias, Comunicação, Afetividade e Aprendizagem

A construção do conhecimento

A construção do conhecimento, na sociedade atual, constitui-se num processo histórico que envolve diferentes gerações, mídias e representações da informação. Esta dinâmica é parte essencial do processo, considerando que as pessoas, a todo o momento, estão constituindo, criando e recriando novos signos e aprendendo a viver num mundo caracterizado, atualmente, pela necessidade cada vez mais crescente do uso das mais diversas tecnologias.

As tecnologias de informação e comunicação, em especial a internet, são utilizadas nas várias dimensões e setores da vida humana, assumindo, assim, características distintas nas diferentes áreas de convivência e configurando a chamada sociedade do conhecimento: “as tecnologias provocam uma transformação social tão ampla que geram uma sociedade do conhecimento; [...] hoje o controle dos vários segmentos da sociedade tende a formar cada vez mais um espaço comum interativo: a cultura, a educação, a pesquisa e a comunicação” (Dowbor, 2001, p. 65-67).

Como aponta o autor, os diversos formatos e possibilidades de acesso e relação com a informação modificam a maneira como a percebemos, processamos e significamos. Os meios de comunicação representam para o homem grande parte de seu desenvolvimento cognitivo. Todos esses aspectos encontram-se num processo em que a convergência das mídias é responsável por uma importante forma de intertextualidade presente neste contexto. Esta abordagem interativa, à medida que perpassa diferentes meios de significação, permite o estudo dos vários elementos que compõem o design instrucional, a avaliação e as metodologias em EaD.

Dentro do debate sobre o uso de Ambientes Hipermidiáticos de Aprendizagem- AHA, na concepção educacional prática da educação à distância, não podemos deixar de considerar a relevância do uso de suas ferramentas, que caracterizam o suporte da proposta e da abordagem pedagógica, desde o desenvolvimento até a implantação de um curso on-line. Nesse sentido, projetar um ambiente de aprendizagem não é tarefa simples e pressupõe a formação de uma equipe multidisciplinar, composta por professores com domínio do conteúdo e por especialistas da área de informática. Segundo França (2006, p.40),

“os AHA, Ambientes Hipermidiáticos de aprendizagem – são, enfim, entendidos como recursos utilizados para mediar, facilitar e gerir os processos de ensino-aprendizagem em cursos on-line, compostos por um conjunto de ferramentas tecnológicas que, aliadas ao design instrucional de um projeto, proporcionam a possibilidade de distribuição de conteúdo, gerenciamento da informação e outros fatores relacionados às interações gerais de um curso e à produção de conhecimento”.

Outro fator importante deste contexto é não transportar as estratégias de ensino da sala de aula presencial para o ambiente hipermidiático, questão observada pelo design instrucional.

As estratégias do design instrucional devem permitir, desse modo, que o ambiente hipermidiático de aprendizagem possa ser um espaço no qual os recursos e ferramentas são organizados, assim como os conteúdos e atividades disponibilizados aos estudantes pelos seus professores, permitindo a integração entre o design educacional e as necessidades de interação dos seus utilizadores.

No que tange às questões de aprendizagem, é importante ressaltar, como aponta Vygotsky (2003), que “o homem, em sua ação, cria instrumentos e signos para transformar a natureza e a si mesmo, construindo a cultura. O signo age como um instrumento da atividade psicológica, de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho”. Dessa forma, pode-se refletir que a estrutura hipermidiática - caracterizada nos ambientes de aprendizagem em EaD por sua não linearidade - assemelha-se aos padrões de funcionamento da mente humana, o que pode, provavelmente, estreitar o distanciamento entre o conhecimento e o ser humano, já que o contato deste último com o conhecimento ocorre também de forma não linear.

Ainda do mesmo autor, o conceito denominado "zona de desenvolvimento proximal" sugere que a aprendizagem desperta vários processos internos, capazes de operar somente quando o indivíduo interage em seu ambiente ou quando se encontra em cooperação com seus companheiros. Nessa interação, o indivíduo apreende as informações do meio e as internaliza, transformando-as. Esta absorção não é passiva, mas uma reelaboração ou integração com os conhecimentos que já possui. Finalmente, quando o indivíduo aprende, seu pensamento se modifica transformando-se em novos conhecimentos e ele volta a agir no meio, transformando-o novamente.
AUTORES:Professor Dr. George França,Professora Msc. Liliam Maria da Silva,Professora Msc. Luciana Aparecida Santos e Professor Dr. Paulo A. C. de Vasconcelo.

MUDANDO DE ASSUUNTO-FALANDO DE TECNOLOGIA E SOCIEDADE.

O Admirável Mundo Novo: Fábula Científica ou Pesadelo Virtual?

Maria Clara Corrêa Tenório [*]

RESUMO

O cientificamente possível é eticamente viável? O Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931 é uma “fábula” futurista relatando uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Olhando o presente, podemos imaginar um futuro semelhante em termos de avanços tecnológicos. Será ele de excessiva falta de ordem, da ordem em excesso preconizada por Huxley ou já vivenciamos o pesadelo virtual de Matrix, a fábula cinematográfica atual ?

Outro dia assisti a um filme de ficção científica no cinema, e, em dado momento um dos atores exclamou estupefato: “É o Admirável mundo novo!”, numa clara referência ao “O Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. O filme, “O Homem sem Sombra” tratava de um grupo de cientistas subsidiados pelo governo dos Estados Unidos, que realizava experiências genéticas visando conseguir tornar seres vivos invisíveis, através de um processo de decomposição celular. O ator principal acaba realizando a experiência em si mesmo e sua personalidade se transforma, ou melhor, as características negativas de sua personalidade afloram e o dominam. A partir desse momento muitas atrocidades acontecem.
Esse filme confesso, não é daqueles que costumo assistir. Não sou fã de ficção científica, embora alguns autores possam dizer que já estejamos vivendo uma “ficção”. No entanto, fez-me refletir sobre a condição humana e todo o relativo “progresso” que a humanidade tem alcançado neste curto espaço de tempo que vai da Revolução Industrial aos dias atuais. Se por um lado, as conquistas humanas são uma maravilha que nos assombra, por outro, corremos sérios riscos de hipervalorizar tais conquistas e esquecer os limites da dimensão humana. Surgem, questionamentos éticos e mesmo existenciais aos quais não podemos nos furtar de responder: Haveria um limite para o desenvolvimento humano? Se há qual seria ele? Quem vai impor esses limites? O que é cientificamente possível é eticamente viável? Para onde caminha a humanidade? Se a destruição é inevitável o que podemos esperar? Se ela pode ser evitada como isso será possível? Até que ponto o homem é senhor de si mesmo?
Observando a rapidez com que as inovações têm se sucedido é impossível não compararmos esse nosso mundo, que a cada dia traz algo de novo, com o “Admirável Mundo Novo” que Aldous Huxley idealizou, há cerca de 70 anos, em 1931. A obra é uma “fábula” futurista de uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas, onde a vontade livre fora abolida por meio de um condicionamento metódico, a servidão tornou-se aceitável mediante doses regulares de felicidade quimicamente transmitida pelo “Soma” (a droga liberado do futuro), e onde as ortodoxias e ideologias eram “propagandeadas” em cursos noturnos ministrados durante o sono.
Nesse livro, o autor mostra sua visão do futuro e profetiza um mundo bem diferente do que existia em sua época. Para ele, em 1931 vivia-se o pesadelo da excessiva falta de ordem, enquanto a sua fábula no século VII d. F (depois de Ford) seria o pesadelo da ordem em demasia. Segundo ele próprio constata no seu Regresso ao Admirável Mundo Novo, escrito vinte e sete anos depois, em 1957, aquilo que ele imaginava num futuro distante, ou seja, as profecias feitas em 1931 já começavam a se realizar mais depressa do que ele pensava e “O abençoado intervalo entre a excessiva falta de ordem e o pesadelo da ordem em excesso não começou e não dá sinais de começar”. (HUXLEY, 1957: 16).
Como ressaltei, Huxley profetizou em Admirável Mundo Novo, uma civilização de excessiva ordem onde todos os homens eram controlados desde a geração por um sistema que aliava controle genético (predestinação) a condicionamento mental, o que os tornava dominados pelo sistema em prol de uma aparente harmonia na sociedade. Não havia espaço para questionamentos ou dúvidas, nem para os conflitos, pois até os desejos e ansiedades eram controlados quimicamente pelo “Soma”, sempre no sentido de preservar a ordem dominante. A liberdade de escolha estava restrita a poucas matérias da vida. As castas superiores eram decantadas em betas, alfas e alfas + e se originavam de óvulos biologicamente superiores, fertilizados por esperma biologicamente superior, recebendo o melhor tratamento pré-natal possível. Já as castas inferiores, bem mais numerosas, recebiam um tratamento diferenciado: provinham de óvulos inferiores, fertilizados por esperma inferior, passavam por um processo denominado Bokanovsky (noventa e seis gêmeos idênticos retirados de um só ovo) e eram “tratados prénatalmente, com álcool e outros venenos proteínicos”. (Huxley, 1957: 39)

domingo, 12 de abril de 2009

Precisamos muitas vezes ,para acabar com os nossos preconceitos, buscar em alguns textos as informações necessárias para a transformação de nossos pensamento.O texto abaixo é um belo exemplo .Carlos
Conceito de "raças" foi criado para justificar dominação,
diz autor; leia trecho da Folha Online
As "raças" e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade. O conceito de que existem diferentes "raças humanas" foi criado pelo próprio homem e ganhou força com base em interesses de determinados grupos, que necessitavam de justificativas para a dominação sobre outros grupos.
A afirmação é do geneticista Sérgio Pena, autor do livro "Humanidade Sem Raças?" (Publifolha, 2008), da Série 21. O título tem formato de ensaio e aborda o conceito de "raças" e o racismo de forma sintética. Saiba mais sobre o livro
O autor examina a questão sob o prisma da biologia e da genética moderna, com uma perspectiva histórica. E propõe, já no trecho de abertura do livro, que pode ser lido abaixo, a necessidade da "desinvenção" imediata do conceito de "raças".
"Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros", afirma o autor. "Assim, a sobrevivência da ideia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor."
Leia abaixo o trecho de introdução de "Humanidade Sem Raças?". O texto mantém a ortografia original do livro, publicado em 2008.
*
A Bíblia nos apresenta os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Morte, Guerra, Fome e Peste. Com os conflitos na Irlanda do Norte, em Ruanda e nos Bálcãs, no fim do século passado, e após o 11 de Setembro, a invasão do Afeganistão e do Iraque e os conflitos de Darfur no início do século 21, temos de adicionar quatro novos cavaleiros: Racismo, Xenofobia, Ódio Étnico e Intolerância Religiosa.
Neste livro vamos examinar um desses: o racismo, com o seu principal comparsa, a crença na existência de "raças humanas". Proponho demonstrar que as raças humanas são apenas produto da nossa imaginação cultural. Como disse o epidemiologista americano Jay S. Kaufman, as raças não existem em nossa mente porque são reais, mas são reais porque existem em nossa mente.1
Acredito que a palavra devia ser sempre escrita entre aspas. Como isso comprometeria demais a apresentação do texto, serão omitidas aqui, mas gostaria de sugerir que o leitor as mantivesse, imaginariamente, a cada ocorrência do termo. No passado, a crença de que as raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades. Ao longo dos tempos, esse infeliz conceito integrou-se à trama da nossa sociedade, sem que sua adequação ou veracidade tenham sido suficientemente questionadas.
Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros. Assim, a sobrevivência da idéia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor. Essa persistência é tóxica, contaminando e enfraquecendo a sociedade como um todo.
Henry Louis Gates Jr. (1950), professor da Universidade de Harvard e diretor do Instituto w.e.b. Du Bois de Pesquisa Sobre Africanos e Afro-Americanos, é um brilhante intelectual norte-americano da atualidade. Em um artigo intitulado "A Ciência do Racismo", recentemente publicado online na revista The Root, Gates faz a seguinte afirmativa: "[...] a última grande batalha sobre o racismo não será lutada com relação ao acesso a um balcão de restaurante, a um quarto de hotel, ao direito de votar, ou mesmo ao direito de ocupar a Casa Branca; ela será lutada no laboratório, em um tubo de ensaio, sob um microscópio, no nosso genoma, no campo de guerra do nosso DNA. É aqui que nós, como uma sociedade, ordenaremos e interpretaremos a nossa diversidade genética".2
Vou seguir a sugestão de Gates e examinar toda a questão das raças humanas e do racismo sob o prisma da biologia e da genética moderna, com uma perspectiva histórica. Assim, contrasto três modelos estruturais da diversidade humana. O primeiro, com base na divisão da humanidade em raças bem definidas, foi desenvolvido nos séculos 17 e 18 e culminou no racismo científico da segunda metade do século 19 e no movimento nazista do século 20. Esse equivocado modelo tipológico definiu as raças como muito diferentes entre si e internamente homogêneas. E foi essa crença de que as diferentes raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas que contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades.
O segundo foi o modelo populacional. Incorporando novos conhecimentos científicos, ele surgiu após o final da Segunda Guerra Mundial, e fez a divisão da humanidade em populações, que passaram a ser corretamente percebidas como internamente heterogêneas e geneticamente sobrepostas. Infelizmente ele se degenerou em um modelo "populacional de raças" e tem sido compatível com a continuação do preconceito e da exploração.
O que proponho para o século 21 é a substituição desses dois modelos prévios por um novo paradigma genômico/individual de estrutura da diversidade humana, que vê essa espécie dividida não em raças ou populações, mas em seis bilhões de indivíduos genomicamente diferentes entre si, mas com graus maiores ou menores de parentesco em suas variadas linhagens genealógicas.
Este terceiro e novo modelo genômico/individual valoriza cada ser humano como único, em vez de enfatizar seu pertencimento a uma população específica, e está solidamente alicerçado nos avanços da genômica, especialmente na demonstração genética e molecular da individualidade genética humana e na comprovação da origem única e recente da humanidade moderna na África. Ele é fundamentalmente genealógico e baseado na história evolucionária humana - enfatiza a individualidade e a singularidade das pessoas e o fato de que a humanidade é uma grande família. Nele, a noção de raça humana perde totalmente o sentido e se desfaz como fumaça.
A mensagem principal deste livro é que se deve fazer todo esforço em prol de uma sociedade desracializada, que valorize e cultive a singularidade do indivíduo e na qual cada um tenha a liberdade de assumir, por escolha pessoal, uma pluralidade de identidades, em vez de um rótulo único, imposto pela coletividade. Esse sonho está em perfeita sintonia com o fato demonstrado pela genética moderna: cada um de nós tem uma individualidade genômica absoluta, que interage com o ambiente para moldar uma exclusiva trajetória de vida.
A Invenção das Raças
Parece existir uma noção generalizada de que o conceito de raças humanas e sua indesejável conseqüência, o racismo, são tão velhos como a humanidade. Há mesmo quem pense neles como parte essencial da "natureza humana". Isso não é verdade. Pelo contrário, as raças e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade.
Desde os primórdios da humanidade houve violência entre grupos humanos, mas só na era moderna essa violência passou a ser justificada por uma ideologia racista. De fato, nas civilizações antigas não são encontradas evidências inequívocas da existência de racismo (que não deve ser confundido com rivalidade entre comunidades). É certo que havia escravidão na Grécia, em Roma, no mundo árabe e em outras regiões. Mas os escravos eram geralmente prisioneiros de guerra e não havia a idéia de que fossem "naturalmente" inferiores aos seus senhores. A escravidão era mais conjuntural que estrutural - se o resultado da guerra tivesse sido outro, os papéis de senhor e escravo estariam invertidos.
A emergência do racismo e a cristalização do conceito de raças coincidiram historicamente com dois fenômenos da era moderna: o início do tráfico de escravos da África para as Américas e o esvanecimento do tradicional espírito religioso em favor de interpretações científicas da natureza.
Diversidade Humana
Antes de prosseguirmos, proponho ao leitor um simples experimento. Dirija-se a um local onde haja grande número de pessoas - uma sala de aula, um restaurante, o saguão de um edifício comercial ou mesmo a calçada de uma rua movimentada. Agora observe cuidadosamente as pessoas ao redor.
Deverá logo saltar aos olhos que somos todos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Podemos ver grandes similaridades no plano corporal, na postura ereta, na pele fina e na falta relativa de pêlos, características da espécie humana que nos distinguem dos outros primatas.
Por outro lado, serão evidentes as extraordinárias variações morfológicas entre as diferentes pessoas: sexo, idade, altura, peso, massa muscular e distribuição de gordura corporal, comprimento, cor e textura dos cabelos (ou ausência deles), cor e formato dos olhos, formatos do nariz e lábios, cor da pele etc.
Essas variações são quantitativas, contínuas, graduais. A priori, não existe absolutamente qualquer razão para valorizar uma ou outra dessas características no exercício de perscrutação. Mas logo se descobre que nem todos os traços têm a mesma relevância. Alguns são mais importantes; por exemplo, quando reparamos que algumas pessoas são mais atraentes que outras.
Além disso, há características que podem nos fornecer informações sobre a origem geográfica ancestral das pessoas: uma pele negra pode nos levar a inferir que a pessoa tenha ancestrais africanos, olhos puxados evocam ancestralidade oriental etc. Mas isso é tudo: não há nada mais que se possa captar à flor da pele.
Pense bem. Como é possível que o fato de possuir ancestrais na África faça o todo de uma pessoa ser diferente de quem tem ancestrais na Ásia ou Europa? O que têm a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver com as qualidades humanas singulares que determinam uma individualidade existencial? Tratar um indivíduo com base na cor da sua pele ou na sua aparência física é claramente errado, pois alicerça toda a relação em algo que é moralmente irrelevante com respeito ao caráter ou ações daquela pessoa.
1 Kaufman, J. S., "How Inconsistencies in Racial Classification Demystify The Race Construct in Public Health Statistics". Em: Epidemiology, 10:108-11, 1999.2 Gates, H. L., "The Science of Racism". Em: The Root (www.theroot.com/id/46680/output/print), 2008.
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"Humanidade Sem Raças?"Autor: Sergio D. J. PenaEditora: PublifolhaPáginas: 72Quanto: R$ 12,90Onde comprar: Nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou no site da Publifolha