terça-feira, 14 de outubro de 2008

O professor

Qualidade do professor é a alavanca para melhorar o desempenho dos alunos
Talita Mochiute

talitamochiute@aprendiz.org.br
“A qualidade do professor é a alavanca mais importante para melhorar o desempenho dos alunos”. A afirmação é da doutora em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), dos Estados Unidos, Mona Mousherd, que coordenou o estudo Como os Sistemas Escolares de Melhor Desempenho do Mundo Chegaram ao Topo, realizado pela Consultoria McKinsey.Os resultados da pesquisa foram apresentados na última segunda-feira (13/10), durante a Semana da Educação, promovida pela Fundação Victor Civita. O evento tem como objetivo refletir o ensino brasileiro e contribuir com a melhoria da educação. O estudo analisou quais são os fatores de sucesso dos dez melhores sistemas educacionais do mundo, de acordo com o ranking do Programme for Internacional Student Assessment (PISA) - programa internacional, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia o desempenho dos alunos na faixa dos 15 anos em leitura, matemática e ciências.Um dos fatores é a excelência do quadro docente. Na Finlândia e Coréia do Sul, dois destaques em modelo de ensino, o processo seletivo para professores é concorrido. No país escandinavo, apenas um em cada 10 candidatos é aceito como professor. Já na Coréia a concorrência é de 1 para 6.Nesses países, o professorado é formado por graduados bem preparados. Na Finlândia, o corpo docente é constituído pelos 5% de melhor desempenho na graduação. Na Coréia, é pelos 10%. Esse índice chega a 30% em Cingapura, outro país com sistema de ensino de sucesso. No Brasil, ocorre o contrário. Segundo o presidente Executivo do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, presente no evento, o quadro de docentes é composto por alunos mais fracos e com baixo nível econômico. “As nossas universidades não têm vocação para formar professores de educação básica. Quem, como e para que forma? É preciso pensar essas questões e reinventar o processo de formação inicial de professores”, comentou.Salário dos ProfessoresPara atrair bons profissionais, os melhores sistemas educacionais investem em política salarial. Finlândia e Coréia do Sul equipararam o salário inicial dos professores com os dos outros setores da economia. “Quando o estudante escolhe uma carreira, compara os salários das diversas profissões. Com o salário inicial alto, a carreira de professor fica mais competitiva”, revelou Mona.A especialista lembrou ainda que o salário inicial elevado ajuda a manter os professores na carreira. “Nos Estados Unidos, o salto salarial só ocorre no sétimo ano de profissão. Muitos abandonam a cargo no segundo ano em busca de opções mais rentáveis”, afirmou. O presidente do Todos pela Educação problematizou a associação entre salário e desempenho dos alunos. “Há especialistas brasileiros que dizem que o salário não é importante. Essa variável, salário do professor e desempenho do aluno, é válida para o Brasil?”, perguntou.Para a secretária de Educação do estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, o problema brasileiro do salário dos professores está relacionada com o “excessivo corporativismo estatal nas carreiras públicas”. O aumento do salário dos professores leva ao reajuste dos salários dos outros funcionários públicos. “Em São Paulo, temos 240 mil professores da rede estadual e mais de 1 milhão de funcionários públicos”, comentou.“Não dá para fechar os olhos diante da questão salarial. Precisamos defender melhores salários para os professores no Brasil”, rebateu a secretária de Educação do estado de Goiás, Milca Severino.Diante das ressalvas, Mona Mousherd reforçou a importância de salários mais competitivos, lembrando da necessidade de campanhas que valorizem a profissão de docente. Alunos com o mesmo desempenho Além do investimento na qualidade do professor, a segunda lição dada pelos melhores sistemas educacionais, segundo Mona, é focar no ensino para a aprendizagem efetiva dos alunos por meio de programas de aperfeiçoamento das práticas pedagógicas. “Nos melhores sistemas, cerca de três horas da semana são reservadas para o treinamento e o retorno do desempenho aos professores. O intercâmbio entre o professorado é fundamental”, explicou a doutora pelo MIT. Em Xangai, na China, todos os professores são obrigados a visitar e observar pelo menos oito aulas dadas por colegas em cada semestre. Enquanto isso, na Finlândia, um profissional mais experiente fica no fundo da sala e dá instruções para o professor pelo ponto eletrônico.Outra conclusão do estudo é que o alto desempenho significa que todas as crianças devem ser bem-sucedidas, não apenas parte delas. Para apoiar os alunos no seu desenvolvimento, os modelos educacionais de excelência realizam avaliação e inspeções na escola, avaliações do sistema todo e exames finais periodicamente. A obtenção de dados serve para identificar alunos com problemas e direcioná-los a programas de reforço escolar. Na Finlândia, alunos com baixo desempenho são colocados em novas salas e recebem educação especial, oferecida por um grupo multidisciplinar (professores, psicólogos e consultores). Quando superam as dificuldades, volta para sua antiga turma. Cerca de 30% de todos os alunos finlandeses já participaram dessa iniciativa. Na outra ponta, alunos melhores colocados nos exames também recebem atenção especial, recebendo aulas mais avançadas. Por fim, o último fator de sucesso é o investimento na liderança das escolas. “Esses países procuram selecionar diretores que reúnam excelência de ensino e em gestão”, explicou a doutora pelo MIT. Para qualificar os futuros diretores, em Cingapura, por exemplo, há oferta de curso de administração de seis meses equivalente a cursos oferecidos para profissionais específicos deste setor. “Os gestores também precisam saber dialogar com alunos, professores e com a comunidade”, conclui Mona Moushard.

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